O extremismo nas interpretações bíblicas (parte 1)
Como é feliz aquele que não segue o conselho dos ímpios, não imita a conduta dos pecadores, nem se assenta na roda dos zombadores! Salmos 1.1
Não é raro ouvir em sermões, debates ou em evangelismos de certos cristãos interpretações que, em muitos casos, tornam-se equivocadas acerca de vários textos bíblicos extraídos de forma isolada, ou seja, versículos bíblicos que não são considerados dentro do contexto (situação, condição de produção) que se insere . Irei abordar uma série de artigos falando acerca de textos bíblicos com interpretações dadas por muitos e que vão além do contexto e sentido abordados pelos escritores da Bíblia Sagrada.
Começarei tratando sobre o texto supracitado, em que se extrai aplicações sem fundamento e que chegam a ter posicionamentos de uma ideologia extremista, o que chamamos de fanatismo religioso. Portanto, quero aqui buscar esclarecer o sentido em que o salmista quis nos passar em relação ao que se refere a três aspectos verbalizados neste versículo: “Andar”, “se deter” e “se assentar”, para não incorrermos de forma inadequada a aplicação prática das Escrituras Sagradas em nossas vidas. O texto nos traz a ideia de que não devemos moldar nossos comportamentos em “conselhos dos ímpios”, mas no que a Bíblia nos orienta. Não devemos nos “deter” no “Caminho” (que em Hebraico significa modo de vida e de conduta) dos pecadores, mas sermos guiados e orientados pela Lei do Senhor. Nem devemos “se assentar na roda dos escarnecedores” (que é se deliciar e comungar com o descrente e o ímpio quando zombam de Deus e das coisas feitas por Ele), mas ser um defensor e proclamador dos feitos e obras do Senhor nosso Deus.
Muitos ao lerem este primeiro versículo do primeiro capítulo do livro de Salmos, afirmam para uma aplicação prática que o “cristão” não deve estar convivendo com as pessoas que não são cristãs. Que não se pode estar em rodas de amigos, entre conversas com pessoas que não partilham da mesma fé cristã. O interessante é notar que em toda a trajetória de vida do Mestre e Salvador Jesus, sua postura foi totalmente o inverso. Ele andava entre os pecadores, comia com os “não cristãos”, ele não se isolava das pessoas por ser santo e por ter comportamentos diferentes das pessoas que não tinham suas vidas voltadas para Deus. Ele se aproximava porque sabia que elas precisavam conhecer o verdadeiro amor de Deus. Veja: “Todos os publicanos e pecadores estavam se reunindo para ouvi-lo. Mas os fariseus e os mestres da lei o criticavam: "Este homem recebe pecadores e come com eles" (Lucas 15.1-2). Nesse texto bíblico, podemos constatar que havia uma rejeição dos religiosos quanto à aproximação de pessoas que não estavam em condições de comunhão plena com Deus.
Esse fato é uma das bandeiras levantadas pelo judaísmo, em que se afirma não poder aproximar-se de pessoas pecadoras para não se tornar “impuro”. Muitos “cristãos” não conseguem se aproximar de pessoas que estão em situações de risco social por acreditarem que estarão se “sujando”, se tornando “impuros” e que essas pessoas não merecem ter atenção devida. É uma atitude que nega a essência de um dos dois princípios e alicerces do evangelho de Cristo: Amar ao próximo como a si mesmo. Como também o princípio de amar a Deus sobre todas as coisas que nos faz reconhecer a Sua soberania, Sua bondade, misericórdia e amor, ao ponto de sermos gratos e não “escarnecedores” das bênçãos celestiais.
Se assumirmos tal postura, seremos “cristãos” indiferentes, ou seja, praticaremos o fanatismo religioso que, nesse caso, a tudo se isola do pecado ao ponto de não alcançar o próximo com o amor de Deus. Jesus nos ensinou a dar de graça aquilo que recebemos de graça, portanto, o perdão, a misericórdia, a compaixão e a oportunidade de conhecer o plano salvífico de Cristo para nos dar a vida eterna. O Senhor Jesus orou ao Pai e lhe pediu que não tirasse os seus discípulos do mundo (porque iria precisar deles para ser suas testemunhas e dar continuidade ao plano de salvação conquistado por Cristo na Cruz), mas que os livrasse do mal. O propósito de Jesus é que sejamos Sal da terra e luz do mundo, que façamos a diferença neste mundo tenebroso que jaz no maligno. Entretanto, não devemos no isolar daqueles que estão precisando conhecer a Cristo assim como outrora estávamos na mesma situação, “E como crerão naquele de quem não ouviram falar? E como ouvirão, se não houver quem pregue?” (Romanos 10.14). Não devo aceitar ser conivente com as práticas daqueles que não querem seguir a Cristo, mas preciso influenciá-los com meu modo de vida regenerado e transformado para que estes desejem ardentemente desfrutar do amor de Deus em suas vidas.
Como posso ter essa oportunidade? Estando com “os pecadores” em seus momentos dos mais distraídos aos mais importantes. No trabalho, na escola, nas reuniões em família, nos encontros de amigos, nos momentos difíceis, etc. Deus nos chamou para sermos salvos e para levarmos o amor dEle àqueles que ainda não conhecem a Verdade, Jesus o Filho de Deus! Jesus disse: “Eu não vim chamar justos, mas pecadores ao arrependimento" (Lucas 5.32).
Na comunhão do Espírito,
Italo B Queiroz
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