sexta-feira, 6 de maio de 2016

"(...) saiba que o pecado o ameaça à porta; ele deseja conquistá-lo (...)"




Queria conversar com os irmãos hoje sobre vigilância, pecado, arrependimento e perdão.

Não foi somente Caim que herdou a natureza adâmica do pai. Somos humanos e assim como ele passíveis de pecar contra o nosso Criador. E muitas vezes somos muito eficientes nisso.

Em Gn. 4.1-16 a Bíblia nos traz alguns fatos e um interessante diálogo entre Caim e o Senhor, que tem muito a nos ensinar (alertar). Transcreverei os versículos e à medida que avançamos no texto farei algumas pontuações:

1 Adão teve relações com Eva, sua mulher, e ela engravidou e deu à luz Caim. Disse ela: "Com o auxílio do Senhor tive um filho homem". 2 Voltou a dar à luz, desta vez a Abel, irmão dele. Abel tornou-se pastor de ovelhas, e Caim, agricultor. 3 Passado algum tempo, Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor. 4 Abel, por sua vez, trouxe as partes gordas das primeiras crias do seu rebanho. O Senhor aceitou com agrado Abel e sua oferta, 5 mas não aceitou Caim e sua oferta.

Vemos que os dois trouxeram ofertas. Um agradou; o outro, não. O fato de eu e você estarmos ofertando algo ao Senhor, não implica necessariamente em Ele agradar-se. Talvez Deus esteja se agradando tanto do nosso culto quanto dos Israelitas a quem se dirigiu dizendo “Parem de trazer ofertas inúteis! O incenso de vocês é repugnante para mim. Luas novas, sábados e reuniões! Não consigo suportar suas assembleias cheias de iniquidade. Suas festas da lua nova e suas festas fixas, eu as odeio. Tornaram-se um fardo para mim; não as suporto mais!”Is.1.13-14). Cuidemos de realizar um culto racional e sincero ao Senhor de céus e terra.  

O texto continua:

Por isso Caim se enfureceu e o seu rosto se transtornou. 6 O Senhor disse a Caim: "Por que você está furioso? Por que se transtornou o seu rosto? 7 Se você fizer o bem, não será aceito? Mas se não o fizer, saiba que o pecado o ameaça à porta; ele deseja conquistá-lo, mas você deve dominá-lo".

Deus o advertiu. Ou você domina o pecado ou ele lhe domina. Caim estava decidido. Tão determinado estava em praticar o que intentava em seu coração que não deu ouvidos a orientação do Senhor. Em tantos momentos essa advertência de Deus caberia facilmente em um contexto em que o ouvinte fosse eu ou você.

Prosseguindo nas sagradas letras:

8 Disse, porém, Caim a seu irmão Abel: "Vamos para o campo". Quando estavam lá, Caim atacou seu irmão Abel e o matou.

Em Dn. 1.8, vemos um jovem decidir firmemente algo em seu coração. Em Gn. 4.8, a decisão também já havia sido feita no coração de Caim. Ele somente levou a efeito o homicídio que já tinha praticado na sua mente. É aí que se dá a batalha. Em determinadas situações, não importa o quanto Deus nos advirta através de sua Palavra, o quanto ele usa irmãos para nos tentar parar, o quanto ele nos dê escape, tão somente o tratamos com desprezo e decidimos agir de acordo com nossos maus desejos e ofertar um belo banquete a nossa carne. Quando decidimos pecar em nossos corações, parece que já não lembramos que o Pai que nos ama é um Deus Santo que tudo observa. Ouvi uma missionária perguntar certa vez, “o que é tão bom que justifique ‘escantear’ Deus da sua vida?”. Respondamos para nós mesmos que prática pecaminosa é mais desejável e valiosa para nós do que o nosso Deus.

Continuemos o texto:

 9 Então o Senhor perguntou a Caim: "Onde está seu irmão Abel?"

O Senhor o advertiu, e em sua onipresença e onisciência viu o homicídio ocorrer, mesmo assim deu uma oportunidade a Caim para que ele confessasse o seu pecado. Ele a jogou fora, respondendo a inquirição com mentira e desrespeito: "Não sei; sou eu o responsável por meu irmão?" Respondeu ele.

Como não poderia deixar de ser, chega à consequência do pecado:

10 Disse o Senhor: "O que foi que você fez? Escute! Da terra o sangue do seu irmão está clamando. 11 Agora amaldiçoado é você pela terra, que abriu a boca para receber da sua mão o sangue do seu irmão. 12 Quando você cultivar a terra, esta não lhe dará mais da sua força. Você será um fugitivo errante pelo mundo".

Para muitos hoje a consequência do pecado é uma gravidez indesejada que destrói ministérios, um adultério que devasta o casamento, prisão, dívidas, doenças, abandono, e para os que realmente se arrependem, o saldo é acompanhado de lágrimas e do profundo desejo de ter escutado a advertência do Senhor anteriormente.

Todavia com Caim, vemos que não houve arrependimento:

13 Disse Caim ao Senhor: "Meu castigo é maior do que posso suportar. 14 Hoje me expulsas desta terra, e terei que me esconder da tua face; serei um fugitivo errante pelo mundo, e qualquer que me encontrar me matará".

Fica evidente que de fato ele não gostaria de ter recebido o castigo que recebeu, mas não demonstrou nenhuma tristeza pelo pecado cometido. Antes, só não queria ter seu ato regido pela lei da semeadura (Gl. 6.7b (...)” Pois o que o homem semear, isso também colherá.”). É como se ele dissesse: “Não estou arrependido, mas não quero sofrer as consequências de meu pecado”.

 15 Mas o Senhor lhe respondeu: "Não será assim; se alguém matar Caim, sofrerá sete vezes a vingança". E o Senhor colocou em Caim um sinal, para que ninguém que viesse a encontrá-lo o matasse. 16 Então Caim afastou-se da presença do Senhor e foi viver na terra de Node, a leste do Éden.

Por fim, vemos que mesmo depois de tudo, Deus cuidou para que ninguém matasse Caim, nos lembrando que ele não aprova a nossa vingança.  (Rm. 12. 19 Amados, nunca procurem vingar-se, mas deixem com Deus a ira, pois está escrito: "Minha é a vingança; eu retribuirei", diz o Senhor.)

O afastar-se da presença do Senhor vivido por Caim nos demonstra o alto e doloroso preço que pagamos quando cometemos pecados.

Outro personagem que conhecermos bem, também ouviu uma advertência. Em Mt. 26. 34, Jesus diz a Pedro “Em verdade te digo que, nesta mesma noite, antes que o galo cante, três vezes me negarás.”. O discípulo, no versículo 35 responde: “Ainda que me seja mister morrer contigo, não te negarei. “

A história continua, e após o cantar do galo, nos é quase audível o choro de Pedro pela “queda” que acabara de sofrer.

Muitas vezes sentimos tristeza profunda e/ou raiva de nossos atos quando deliberadamente pecamos contra o Senhor. Isso é um bom sinal, quando vem acompanhado de arrependimento, porque a este segue o perdão que alcançamos através do sacrifício de Cristo. O problema é quando não há arrependimento, quando o nosso coração encontra-se endurecido, tantas vezes já cauterizado pelo anseio do pecado ou pela reincidência em fazê-lo.

Vi, estes dias, em uma igreja que visitei, um casal pedindo perdão pelo cometimento de pecado. No choro deles, uma mistura de arrependimento, vergonha e dor. Quando vemos alguém sofrendo por causa de seu pecado, refletimos sobre os nossos. Na ocasião, lembrei-me de 1 Co. 10.12 “Assim, aquele que julga estar firme, cuide-se para que não caia!” e da necessidade que temos de “vigiar” para que não caiamos.

Em Mt. 26. 41, Jesus afirma “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca.” Somos todos iguais. Não há crentes imunes a queda. Se a nossa fraqueza não for levada a Deus, e não nos levar a Ele, com certeza ela nos levará a sentir na pele amostras do “lamaçal” do qual Deus nos tirou.

Fuja do pecado – não o esconda, não o trate com superficialidade, todavia não fuja das consequências dele – atribuindo-a a outros ou desprezando a disciplina do Senhor.

Aquele que está no erro e tem fechado os ouvidos a voz dos céus, analise Pv. 28. 13-14 “Quem esconde os seus pecados não prospera, mas quem os confessa e os abandona encontra misericórdia.”;  Pv. 29.1 “Quem insiste no erro depois de muita repreensão, será destruído, sem aviso e irremediavelmente”; Tg. 5.16 “Portanto, confessem os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros para serem curados. A oração de um justo é poderosa e eficaz; Sl. 32. 3-4.9 “Enquanto escondi os meus pecados, o meu corpo definhava de tanto gemer. Pois de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; minha força foi se esgotando como em tempo de seca(...) Não sejam como o cavalo ou o burro, que não têm entendimento mas precisam ser controlados com freios e rédeas, caso contrário não obedecem.”

Aos que estão sofrendo a disciplina do Senhor, reflita sobre Pv. 3.11-12 “Meu filho, não despreze a disciplina do Senhor nem se magoe com a sua repreensão, pois o Senhor disciplina a quem ama, assim como o pai faz ao filho de quem deseja o bem.”

Aos que se arrependeram verdadeiramente, descansem na promessa descrita em Isaias 1.18 "Venham, vamos refletir juntos", diz o Senhor. "Embora os seus pecados sejam vermelhos como escarlate, eles se tornarão brancos como a neve; embora sejam rubros como púrpura, como a lã se tornarão.”

Tiago afirma no cap. 1.14-15 “Cada um, porém, é tentado pela própria cobiça, sendo por esta arrastado e seduzido. Então a cobiça, tendo engravidado, dá à luz o pecado; e o pecado, após ter-se consumado, gera a morte.” Não espere que na sua vida este ciclo chegue ao fim. Destrua-o, antes dele destruir sua comunhão com Deus.

Não caminhe até a beira do abismo, achando que você não vai cair. Lembre-se não vale a pena correr o risco de sentir o que Davi sentiu: “Pois eu mesmo reconheço as minhas transgressões, e o meu pecado sempre me persegue.” Sl 51.3. O Pai perdoa, mas as consequências de nosso pecado são extremamente danosas a nós e aos que nos rodeiam.

Nós não temos que cair para saber que a queda machuca. Paremos enquanto podemos, porque “Como é feliz aquele que tem suas transgressões perdoadas e seus pecados apagados!”( Sl 32.1), sabendo que isto custou a morte do Filho de Deus, o nosso Senhor e Salvador, consoante o sacrifício de Abel, irmão de Caim, já apontava.