sábado, 7 de novembro de 2015

A fé que vai além das sensações


A fé que vai além das sensações

Duas pessoas conversavam entre si quando uma afirmou: “eu sabia que era a presença de Deus, eu pude sentir, meus pelos se arrepiaram, senti um frio na espinha, a emoção tomou conta do meu ser, passei a chorar e tive a certeza, era a presença de Deus em nosso meio”. Semelhantemente ao trecho antecedente, é comum ouvirmos as seguintes expressões: “Que reunião abençoada! Tive várias sensações acerca de Deus e Sua presença”; “Ah, tenho certeza de que tal decisão é a correta porque senti paz”; “Pude ver vários sinais neste dia sobre a vontade de Deus em minha vida: choveu, fez sol, tal irmão “profetizou” para mim e etc...”; “Não estou sentindo a presença de Deus, será que Ele me deixou?”.

O que fazer quando nossa vivência cristã está baseada em sensações? O que as afirmações acima têm a ver com fé? Vejamos. O cristianismo, ao longo dos séculos, sofreu a influência das mais diversas crenças, dentre estas àquelas que impõem ao adepto a necessidade de sentir. É preciso ver, abraçar, apalpar, materializar. É indispensável perceber através dos sentidos para que seja real, do contrário não é válido.

O sincretismo religioso (fusão de diferentes doutrinas) é facilmente encontrado nos diversos segmentos da cristandade atual, é de espantar a quantidade de cristãos escravos de seus sentimentos, que dão à Bíblia um lugar secundário ao prestígio de suas próprias sensações. Maior prova desta realidade são as letras das músicas ditas cristãs, em seus teores encontraremos: “quero sentir”; “quero ver”; “me abrace, me toque, me olhe”.

Pois bem. A Bíblia diz que somente podemos ser salvos e, portanto, próximos de Deus, por meio da fé, e isto não vem de nós, é um dom Dele (Ef, 2:8), afirma ainda que sem fé é impossível agradar a Deus (Hb, 11:6), bem como que a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se veem (Hb, 11:1). Esta última passagem ampara toda a expressão bíblica de fé, fé não é ver, não é sentir, não é se arrepiar, não é chorar... A fé implica uma atitude essencialmente racional: CRER.

Perceba, não temos controle sobre as nossas sensações, elas variam muito facilmente e rapidamente diante das circunstâncias e experiências da vida, mas quanto à decisão de crer, esta prevalece diante dos eventos mais adversos, diante dos sentimentos mais obscuros, das situações mais incomuns, eu posso continuar crendo! "Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não gado; Todavia eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação". (Hc 3: 17-18).

Àquele que baseia sua vida cristã em sentimentos, esquece-se do que diz a Palavra de Deus em Jeremias, 17:9: “enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?”. Comumente encontramos pessoas que, amparadas em suas sensações, vivem e agem em desconformidade com a Bíblia, dando lugar a um cristianismo subjetivista e puramente emocional. Eis aí um grande perigo.

A fé bíblica, genuína e pura tem por fundamento a Palavra revelada de Deus, não se amolda às circunstâncias, mas se apoia no que é imutável, inerrante e perfeito: a Bíblia! Ainda que na minha carne eu não obtenha sensações que evidenciem a presença de Deus em mim, seja por momentos de frieza espiritual ou enfrentamento de tribulações, eu continuo crendo que Ele está comigo, porque Ele disse que estaria: “E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém” (Mt, 28:20).

Quando tudo parece perdido, quando as circunstâncias sobrevêm contra mim, quando meu coração palpita sensações e confusão, eu posso fitar meus olhos na Palavra de Deus e crer no que nela está contido! Simplesmente crer!

Por outro lado, não sejamos extremistas. Não negamos a possibilidade de que o espiritual reflita no material, que em dado momento o Senhor nos conceda a graça de senti-Lo, de contemplá-Lo, de que desfrutemos, na carne, a materialidade da alegria em Cristo, da paz que excede todo o entendimento e outros sentimentos produzidos pelo Espírito em nós. Entretanto, minha fé não pode estar baseada nestas experiências, as aflições deste mundo poderão tirar-me, ainda que momentaneamente, a sensibilidade de tais coisas, mas a minha fé manterá minhas convicções firmes.

Minhas sensações podem levar-me a duvidar da realidade de Deus e da confiabilidade de Sua Palavra, a fé genuína não, esta tem por fundamento a verdade revelada e me leva a ver o invisível, ouvir o inaudível e crer no incrível!

“É a presença real de Deus, e não a sensação da presença, que gera Cristo em nós. A sensação da presença é possível e um dom formidável, e agradecemos quando recebemos, é só isso” (C. S. Lewis em “Cartas a uma Senhora americana”).

O justo viverá da fé e, se recuar, a minha alma não tem prazer nele (Hb, 10:38). Assim sendo, Deus nos chama para viver pela fé, sob uma atitude mental e racional de crer além das sensações, além da humanidade, além do possível e razoável ao homem natural. Caminharemos para a maturidade espiritual quando soubermos nos firmar em Cristo e em Sua Palavra, não em sentimentos ou subjetivismos. Que o Senhor nos ajude!

Pela graça de Deus,


Carol Montilari.

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