A fé que vai além das sensações
Duas pessoas conversavam entre si quando uma
afirmou: “eu sabia que era a presença de Deus, eu pude sentir, meus pelos se
arrepiaram, senti um frio na espinha, a emoção tomou conta do meu ser, passei a
chorar e tive a certeza, era a presença de Deus em nosso meio”. Semelhantemente
ao trecho antecedente, é comum ouvirmos as seguintes expressões: “Que reunião
abençoada! Tive várias sensações acerca de Deus e Sua presença”; “Ah, tenho
certeza de que tal decisão é a correta porque senti paz”; “Pude ver vários
sinais neste dia sobre a vontade de Deus em minha vida: choveu, fez sol, tal
irmão “profetizou” para mim e etc...”; “Não estou sentindo a presença de Deus,
será que Ele me deixou?”.
O que fazer quando nossa vivência cristã está
baseada em sensações? O que as afirmações acima têm a ver com fé? Vejamos. O
cristianismo, ao longo dos séculos, sofreu a influência das mais diversas
crenças, dentre estas àquelas que impõem ao adepto a necessidade de sentir. É
preciso ver, abraçar, apalpar, materializar. É indispensável perceber através
dos sentidos para que seja real, do contrário não é válido.
O sincretismo religioso (fusão de diferentes
doutrinas) é facilmente encontrado nos diversos segmentos da cristandade atual,
é de espantar a quantidade de cristãos escravos de seus sentimentos, que dão à
Bíblia um lugar secundário ao prestígio de suas próprias sensações. Maior prova
desta realidade são as letras das músicas ditas cristãs, em seus teores
encontraremos: “quero sentir”; “quero ver”; “me abrace, me toque, me olhe”.
Pois bem. A Bíblia diz que somente podemos ser
salvos e, portanto, próximos de Deus, por meio da fé, e isto não vem de nós, é um
dom Dele (Ef, 2:8), afirma ainda que sem fé é impossível agradar a Deus (Hb, 11:6),
bem como que a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das
coisas que não se veem (Hb, 11:1). Esta última passagem ampara toda a expressão
bíblica de fé, fé não é ver, não é sentir, não é se arrepiar, não é chorar... A
fé implica uma atitude essencialmente racional: CRER.
Perceba, não temos controle sobre as nossas
sensações, elas variam muito facilmente e rapidamente diante das circunstâncias
e experiências da vida, mas quanto à decisão de crer, esta prevalece diante dos
eventos mais adversos, diante dos sentimentos mais obscuros, das situações mais
incomuns, eu posso continuar crendo! "Porque ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; ainda que decepcione o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não gado; Todavia eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvação". (Hc 3: 17-18).
Àquele que baseia sua vida cristã em sentimentos,
esquece-se do que diz a Palavra de Deus em Jeremias, 17:9: “enganoso é o
coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?”. Comumente
encontramos pessoas que, amparadas em suas sensações, vivem e agem em
desconformidade com a Bíblia, dando lugar a um cristianismo subjetivista e
puramente emocional. Eis aí um grande perigo.
A fé bíblica, genuína e pura tem por fundamento a
Palavra revelada de Deus, não se amolda às circunstâncias, mas se apoia no que
é imutável, inerrante e perfeito: a Bíblia! Ainda que na minha carne eu não obtenha
sensações que evidenciem a presença de Deus em mim, seja por momentos de frieza
espiritual ou enfrentamento de tribulações, eu continuo crendo que Ele está
comigo, porque Ele disse que estaria: “E eis que eu estou convosco todos os
dias, até a consumação dos séculos. Amém” (Mt, 28:20).
Quando tudo parece perdido, quando as circunstâncias
sobrevêm contra mim, quando meu coração palpita sensações e confusão, eu posso
fitar meus olhos na Palavra de Deus e crer no que nela está contido!
Simplesmente crer!
Por outro lado, não sejamos extremistas. Não negamos
a possibilidade de que o espiritual reflita no material, que em dado momento o
Senhor nos conceda a graça de senti-Lo, de contemplá-Lo, de que desfrutemos, na
carne, a materialidade da alegria em Cristo, da paz que excede todo o
entendimento e outros sentimentos produzidos pelo Espírito em nós. Entretanto, minha
fé não pode estar baseada nestas experiências, as aflições deste mundo poderão
tirar-me, ainda que momentaneamente, a sensibilidade de tais coisas, mas a
minha fé manterá minhas convicções firmes.
Minhas sensações podem levar-me a duvidar da
realidade de Deus e da confiabilidade de Sua Palavra, a fé genuína não, esta
tem por fundamento a verdade revelada e me leva a ver o invisível, ouvir o
inaudível e crer no incrível!
“É a presença real de Deus, e não a sensação da
presença, que gera Cristo em nós. A sensação da presença é possível e um dom
formidável, e agradecemos quando recebemos, é só isso” (C. S. Lewis em “Cartas
a uma Senhora americana”).
O justo viverá da fé e, se recuar, a minha alma não
tem prazer nele (Hb, 10:38). Assim sendo, Deus nos chama para viver pela fé,
sob uma atitude mental e racional de crer além das sensações, além da
humanidade, além do possível e razoável ao homem natural. Caminharemos para a
maturidade espiritual quando soubermos nos firmar em Cristo e em Sua Palavra, não
em sentimentos ou subjetivismos. Que o Senhor nos ajude!
Pela
graça de Deus,
Carol
Montilari.
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