Salvo e desigrejado, é possível?
Não vou à igreja, mas sou salvo e continuo servindo ao Senhor...
Não estou entre os cristãos, mas continuo obediente a Deus...
Não me submeto a pastor/líder, só a Deus, por isso sou salvo...
É cada vez maior o número de adeptos das afirmações acima, são os denominados “desigrejados”, aqueles que deixaram a comunhão dos santos, e que, na maioria das vezes, se autoproclamam salvos em Cristo Jesus. Todavia, antes de responder à pergunta aposta no título, creio ser necessário delimitarmos melhor o conceito do “crente desigrejado”.
Convencionou-se chamar de “desigrejado” aquele que já esteve entre os convertidos, já fez parte do rol de membros de uma igreja e quem sabe, até participou ativamente dos trabalhos eclesiásticos, mas, em algum momento por alguma razão, deixou o convívio dos irmãos e adotou um estilo de vida e rotina avessos aos dos convertidos. São os egressos da casa do Pai.
Grande parte dos integrantes deste grupo negam que a sua ausência nos templos e cultos públicos implica em negar-lhe a realidade de salvação, pelo contrário, muitos se colocam em certa posição de “maturidade espiritual”, afirmando que “não precisam mais desta comunhão sob a liderança de um pastor ou outro”.
A par de tais fatos, indaga-se: à luz da bíblia, é possível viver fora da comunhão dos santos, ausente da igreja do Senhor e ser salvo? Estabeleçamos algumas premissas. Inicialmente, viver na comunhão dos santos, isto é, entre os regenerados em contínuo serviço, admoestação e obediência ao Senhor é bíblico e necessário. O sacrifício de Cristo se deu por Sua igreja, cujo corpo deveria aguardar reunido e em plena comunhão a Sua volta. Em parte alguma do evangelho recomenda-se a vida isolada ou apartada de outros convertidos, pelo contrário, o Senhor instituiu a Sua igreja e a necessária perseverança dos seus membros quanto ao convívio e crescimento conjuntos.
Aliás, viver entre os santos é uma das evidências daquele que foi regenerado pelo Espírito Santo: “Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado” (1 Jo, 1:7). O novamente nascido, recebedor de uma nova vida e mente de Cristo não somente precisa ser parte de Seu Corpo quanto ama esta realidade. Apesar dos problemas e divergências naturalmente decorrentes dos relacionamentos interpessoais ao longo dos anos, o salvo compreende sua posição de membro do corpo do Senhor e concebe a comunhão dos santos enquanto instrumento de Deus para forjamento do caráter de Cristo em si.
Assim sendo é ABSOLUTAMENTE IMPOSSIVEL que um regenerado siga no caminho estreito sozinho, à revelia da convivência com outros salvos. Esta situação é incompatível com a obra salvífica operada pelo Espírito Santo, afinal de contas, estaria o mesmo Deus compelindo o ser humano a agir em desconformidade com Sua palavra? A pergunta é retórica, Deus não é deus de confusão!
Em linhas objetivas, rejeitar a convivência entre os irmãos, no seio do Corpo de Cristo, é uma atitude pecaminosa, não condizente com aquele que professa fé e salvação em Jesus. Sobre isso, o escritor de Hebreus disse: “E consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras, não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia” (Hb, 10:24-25).
Sobre as recomendações bíblicas de amor fraternal entre os irmãos, crescimento mútuo e suporte constante entre uns e outros, não haveria lugar nesse texto para tantas referências. Como exercitar esses deveres longe da congregação? Como não atender às ordens do Senhor e ao mesmo tempo querer acreditar estar sob a Sua vontade? Eis uma questão contraditória.
Assim sendo, patente o pecado daquele que se evade do corpo de Cristo, não há qualquer possibilidade de um regenerado adotá-lo, sob pena de não ter nascido da água e do Espírito. Veja 1 João, 3:9: “Qualquer que é nascido de Deus não permanece na prática do pecado; porque a sua semente permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido de Deus”.
A grande verdade por trás de um egresso da igreja do Senhor ou desigrejado é, na maior parte das vezes, a presença de um velho homem não transformado, incapaz de se submeter ao senhorio de Cristo, impassível de obedecê-Lo ou de sujeitar-se a Ele. É como exigir de um porco que se aparte da lama e passe a viver como ovelha. Fora da obra redentora, isso jamais será possível.
Nestes termos, apesar da capacidade mental e criativa humana de criar as mais diversas desculpas e argumentos vazios para explicar a condição de um desigrejado, frise-se, sempre pondo a culpa sobre outros, a verdade acerca destes se encontra retratada em 1 João 2:19: “Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós”.
No amor de Cristo,
Carol Montilari.
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