Queria
conversar com os irmãos hoje sobre vigilância, pecado, arrependimento e perdão.
Não foi
somente Caim que herdou a natureza adâmica do pai. Somos humanos e assim como
ele passíveis de pecar contra o nosso Criador. E muitas vezes somos muito
eficientes nisso.
Em Gn. 4.1-16
a Bíblia nos traz alguns fatos e um interessante diálogo entre Caim e o Senhor,
que tem muito a nos ensinar (alertar). Transcreverei os versículos e à medida
que avançamos no texto farei algumas pontuações:
1 Adão teve
relações com Eva, sua mulher, e ela engravidou e deu à luz Caim. Disse ela:
"Com o auxílio do Senhor tive um filho homem". 2 Voltou a dar à luz,
desta vez a Abel, irmão dele. Abel tornou-se pastor de ovelhas, e Caim,
agricultor. 3 Passado algum tempo, Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao
Senhor. 4 Abel, por sua vez, trouxe as partes gordas das primeiras crias do seu
rebanho. O Senhor aceitou com agrado Abel e sua oferta, 5 mas não aceitou Caim
e sua oferta.
Vemos que os
dois trouxeram ofertas. Um agradou; o outro, não. O fato de eu e você estarmos
ofertando algo ao Senhor, não implica necessariamente em Ele agradar-se. Talvez
Deus esteja se agradando tanto do nosso culto quanto dos Israelitas a quem se
dirigiu dizendo “Parem de trazer ofertas inúteis! O incenso de vocês é
repugnante para mim. Luas novas, sábados e reuniões! Não consigo suportar suas
assembleias cheias de iniquidade. Suas festas da lua nova e suas festas fixas,
eu as odeio. Tornaram-se um fardo para mim; não as suporto mais!”Is.1.13-14). Cuidemos
de realizar um culto racional e sincero ao Senhor de céus e terra.
O texto
continua:
Por isso Caim
se enfureceu e o seu rosto se transtornou. 6 O Senhor disse a Caim: "Por
que você está furioso? Por que se transtornou o seu rosto? 7 Se você fizer o
bem, não será aceito? Mas se não o fizer, saiba que o pecado o ameaça à porta;
ele deseja conquistá-lo, mas você deve dominá-lo".
Deus o
advertiu. Ou você domina o pecado ou ele lhe domina. Caim estava decidido. Tão determinado
estava em praticar o que intentava em seu coração que não deu ouvidos a
orientação do Senhor. Em tantos momentos essa advertência de Deus caberia
facilmente em um contexto em que o ouvinte fosse eu ou você.
Prosseguindo
nas sagradas letras:
8 Disse,
porém, Caim a seu irmão Abel: "Vamos para o campo". Quando estavam
lá, Caim atacou seu irmão Abel e o matou.
Em Dn. 1.8,
vemos um jovem decidir firmemente algo em seu coração. Em Gn. 4.8, a decisão
também já havia sido feita no coração de Caim. Ele somente levou a efeito o
homicídio que já tinha praticado na sua mente. É aí que se dá a batalha. Em
determinadas situações, não importa o quanto Deus nos advirta através de sua
Palavra, o quanto ele usa irmãos para nos tentar parar, o quanto ele nos dê
escape, tão somente o tratamos com desprezo e decidimos agir de acordo com
nossos maus desejos e ofertar um belo banquete a nossa carne. Quando decidimos
pecar em nossos corações, parece que já não lembramos que o Pai que nos ama é
um Deus Santo que tudo observa. Ouvi uma missionária perguntar certa vez, “o
que é tão bom que justifique ‘escantear’ Deus da sua vida?”. Respondamos para
nós mesmos que prática pecaminosa é mais desejável e valiosa para nós do que o
nosso Deus.
Continuemos o
texto:
9 Então o Senhor perguntou a Caim: "Onde
está seu irmão Abel?"
O Senhor o
advertiu, e em sua onipresença e onisciência viu o homicídio ocorrer, mesmo
assim deu uma oportunidade a Caim para que ele confessasse o seu pecado. Ele a
jogou fora, respondendo a inquirição com mentira e desrespeito: "Não sei;
sou eu o responsável por meu irmão?" Respondeu ele.
Como não
poderia deixar de ser, chega à consequência do pecado:
10 Disse o
Senhor: "O que foi que você fez? Escute! Da terra o sangue do seu irmão
está clamando. 11 Agora amaldiçoado é você pela terra, que abriu a boca para
receber da sua mão o sangue do seu irmão. 12 Quando você cultivar a terra, esta
não lhe dará mais da sua força. Você será um fugitivo errante pelo mundo".
Para muitos
hoje a consequência do pecado é uma gravidez indesejada que destrói ministérios,
um adultério que devasta o casamento, prisão, dívidas, doenças, abandono, e
para os que realmente se arrependem, o saldo é acompanhado de lágrimas e do
profundo desejo de ter escutado a advertência do Senhor anteriormente.
Todavia com
Caim, vemos que não houve arrependimento:
13 Disse Caim
ao Senhor: "Meu castigo é maior do que posso suportar. 14 Hoje me expulsas
desta terra, e terei que me esconder da tua face; serei um fugitivo errante
pelo mundo, e qualquer que me encontrar me matará".
Fica evidente
que de fato ele não gostaria de ter recebido o castigo que recebeu, mas não
demonstrou nenhuma tristeza pelo pecado cometido. Antes, só não queria ter seu
ato regido pela lei da semeadura (Gl. 6.7b (...)” Pois o que o homem semear,
isso também colherá.”). É como se ele dissesse: “Não estou arrependido, mas não
quero sofrer as consequências de meu pecado”.
15 Mas o Senhor lhe respondeu: "Não será
assim; se alguém matar Caim, sofrerá sete vezes a vingança". E o Senhor
colocou em Caim um sinal, para que ninguém que viesse a encontrá-lo o matasse.
16 Então Caim afastou-se da presença do Senhor e foi viver na terra de Node, a
leste do Éden.
Por fim, vemos
que mesmo depois de tudo, Deus cuidou para que ninguém matasse Caim, nos
lembrando que ele não aprova a nossa vingança.
(Rm. 12. 19 Amados, nunca procurem vingar-se, mas deixem com Deus a ira,
pois está escrito: "Minha é a vingança; eu retribuirei", diz o
Senhor.)
O afastar-se
da presença do Senhor vivido por Caim nos demonstra o alto e doloroso preço que
pagamos quando cometemos pecados.
Outro
personagem que conhecermos bem, também ouviu uma advertência. Em Mt. 26. 34,
Jesus diz a Pedro “Em verdade te digo que, nesta mesma noite, antes que o galo
cante, três vezes me negarás.”. O discípulo, no versículo 35 responde: “Ainda
que me seja mister morrer contigo, não te negarei. “
A história
continua, e após o cantar do galo, nos é quase audível o choro de Pedro pela “queda”
que acabara de sofrer.
Muitas vezes
sentimos tristeza profunda e/ou raiva de nossos atos quando deliberadamente pecamos
contra o Senhor. Isso é um bom sinal, quando vem acompanhado de arrependimento,
porque a este segue o perdão que alcançamos através do sacrifício de Cristo. O
problema é quando não há arrependimento, quando o nosso coração encontra-se
endurecido, tantas vezes já cauterizado pelo anseio do pecado ou pela
reincidência em fazê-lo.
Vi, estes
dias, em uma igreja que visitei, um casal pedindo perdão pelo cometimento de
pecado. No choro deles, uma mistura de arrependimento, vergonha e dor. Quando
vemos alguém sofrendo por causa de seu pecado, refletimos sobre os nossos. Na
ocasião, lembrei-me de 1 Co. 10.12 “Assim, aquele que julga estar firme,
cuide-se para que não caia!” e da necessidade que temos de “vigiar” para que
não caiamos.
Em Mt. 26. 41,
Jesus afirma “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o
espírito está pronto, mas a carne é fraca.” Somos todos iguais. Não há crentes
imunes a queda. Se a nossa fraqueza não for levada a Deus, e não nos levar a
Ele, com certeza ela nos levará a sentir na pele amostras do “lamaçal” do qual
Deus nos tirou.
Fuja do pecado
– não o esconda, não o trate com superficialidade, todavia não fuja das
consequências dele – atribuindo-a a outros ou desprezando a disciplina do
Senhor.
Aquele que
está no erro e tem fechado os ouvidos a voz dos céus, analise Pv. 28. 13-14
“Quem esconde os seus pecados não prospera, mas quem os confessa e os abandona
encontra misericórdia.”; Pv. 29.1 “Quem
insiste no erro depois de muita repreensão, será destruído, sem aviso e
irremediavelmente”; Tg. 5.16 “Portanto, confessem os seus pecados uns aos
outros e orem uns pelos outros para serem curados. A oração de um justo é
poderosa e eficaz; Sl. 32. 3-4.9 “Enquanto escondi os meus pecados, o meu corpo
definhava de tanto gemer. Pois de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim;
minha força foi se esgotando como em tempo de seca(...) Não sejam como o cavalo
ou o burro, que não têm entendimento mas precisam ser controlados com freios e
rédeas, caso contrário não obedecem.”
Aos que estão
sofrendo a disciplina do Senhor, reflita sobre Pv. 3.11-12 “Meu filho, não
despreze a disciplina do Senhor nem se magoe com a sua repreensão, pois o
Senhor disciplina a quem ama, assim como o pai faz ao filho de quem deseja o
bem.”
Aos que se
arrependeram verdadeiramente, descansem na promessa descrita em Isaias 1.18
"Venham, vamos refletir juntos", diz o Senhor. "Embora os seus
pecados sejam vermelhos como escarlate, eles se tornarão brancos como a neve;
embora sejam rubros como púrpura, como a lã se tornarão.”
Tiago afirma
no cap. 1.14-15 “Cada um, porém, é tentado pela própria cobiça, sendo por esta
arrastado e seduzido. Então a cobiça, tendo engravidado, dá à luz o pecado; e o
pecado, após ter-se consumado, gera a morte.” Não espere que na sua vida este
ciclo chegue ao fim. Destrua-o, antes dele destruir sua comunhão com Deus.
Não caminhe
até a beira do abismo, achando que você não vai cair. Lembre-se não vale a pena
correr o risco de sentir o que Davi sentiu: “Pois eu mesmo reconheço as minhas
transgressões, e o meu pecado sempre me persegue.” Sl 51.3. O Pai perdoa, mas
as consequências de nosso pecado são extremamente danosas a nós e aos que nos
rodeiam.
Nós não temos
que cair para saber que a queda machuca. Paremos enquanto podemos, porque
“Como é feliz aquele que tem suas transgressões perdoadas e seus pecados
apagados!”( Sl 32.1), sabendo que isto custou a morte do Filho de Deus, o nosso
Senhor e Salvador, consoante o sacrifício de Abel, irmão de Caim, já apontava.
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