O ATIVISMO CRISTÃO

[...] “Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”. (Mateus, 6:33).

É comum encontrarmos uma soma incontável de cristãos que se utilizam do versículo acima para justificarem seu ativismo exacerbado nos trabalhos da igreja, muitas vezes à custa do sofrimento da família e do trabalho. Parcela significativa de cristãos acredita que as atividades realizadas na igreja se confundem com seu relacionamento com Deus, isto é, “quanto mais cargos ocupar, quanto mais obras desempenhar, mais espiritual serei, mais perto do Senhor estarei...” Mas, será que é isso que o texto acima informa? Estou correto em pensar que espiritualidade implica em ativismo eclesiástico? Vejamos.

     Inicialmente importa delimitarmos o que seja “Reino de Deus”. O conceito de reino de Deus é dos mais amplos e controvertidos da teologia cristã, mas, em síntese, aparece no Novo Testamento com, pelo menos, três sentidos: a) o reino eterno e invisível de Deus; b) o domínio do Senhor sobre todo aquele que O serve; e c) o estabelecimento do reino visível de Deus no fim dos tempos, quando todos o verão e reconhecerão Sua soberania. No mesmo sentido, o Reino de Deus representa a total submissão do homem à vontade do Pai em um relacionamento contínuo.

     Assim sendo, não é correto associarmos o “Reino de Deus” como sendo a igreja nesta terra, não obstante seja esta agente do Reino, este último é ilimitado, intangível e transcendente dos limites da igreja. Estabelecidos tais conceitos, indaga-se: o que informa o texto de Mateus 6:33? Partamos de seu contexto. Nesta passagem o Senhor Jesus está proferindo o sermão da montanha e, ao referir-se às causas das maiores preocupações humanas (comida, bebida, mantimento, vestimenta, provisão material em geral), arremata: Não se preocupem com nada destas coisas, dediquem-se, em primeiro plano, a se submeterem à minha vontade e estabelecerem um relacionamento íntimo e contínuo Comigo! (parafraseei). Veja: não se trata de abandonar seu lar, deixar seu emprego, esquivar-se de suas responsabilidades e entregar-se, de modo prioritário às atividades da igreja, Deus não requer isso de você! Estar em Deus ou sobre o Reino de Deus não implica em ser um ativista frenético na obra eclesiástica! Não! Você sabia que uma parcela significativa de pessoas à frente dos cargos e dos trabalhos nas igrejas atuais não possuem qualquer relacionamento com Deus? Você sabia que muitos carecem, inclusive, de novo nascimento? Lamentável, mas é a realidade... Assombrosa é a quantidade de “ativistas cristãos” que trabalham para serem vistos/reconhecidos, que possuem o intento único de agradar seu líder, que fazem da obra de Deus uma vitrine para expor seus talentos musicais, eloqüência e intelectualidade.

     A “obra de Deus” é feita à revelia de seu Senhor, embora leve Seu nome, tal obra não tem parte com Ele. A correção de nossa perspectiva quanto a este assunto é urgente, em especial quando observamos a quantidade de famílias destruídas pela “obra de Deus”, o número de pessoas negligentes em seus trabalhos em razão dela e a confusão que alguns fazem em acreditar numa espiritualidade vazia advinda de algum cargo ou atividade desempenhada na igreja. Reflita: Como posso trabalhar na igreja se não tenho relacionamento diário e íntimo com o Senhor da igreja? Como desempenhar atividades na obra se a minha casa está um caos? Como posso me comprometer com tantas atividades se o meu cônjuge está abandonado, se não tenho tempo para estar com meus filhos e educá-los? Entenda, há uma lista de prioridades na vida do cristão e é agradável ao Senhor que aquele que o serve observe tais prioridades, sob pena de grave desequilíbrio em sua vida espiritual, familiar, profissional e relacional.

     Antes de tudo e acima de qualquer coisa, deve o cristão priorizar seu RELACIONAMENTO COM DEUS, e isto não tem nada a ver com estar na igreja (instituição) ou desempenhar atividades nesta, mas amar ao Senhor de todo o coração, de toda a alma e de todo o pensamento (Mateus, 22:37). Amar a Deus desta forma e com tal intensidade implica, necessariamente, em relacionamento contínuo e íntimo com Ele. Essa devoção diária e ininterrupta, regada pela oração e meditação/submissão à Palavra, é a expressão da verdade de Mateus 6:33, é a prioridade máxima na vida do novo nascido. Logo em seguida na lista de prioridades vem o CÔNJUGE. A bíblia é farta de prescrições para a esposa e marido, para a necessidade de que ambos se amem, se respeitem, honrem seu lar e cuidem um do outro. Deus usa o relacionamento dos cônjuges para exemplificar o nível de entrega e amor de Cristo para com a Sua igreja. Arremata, em Efésios 05, que o marido deve amar a esposa de tal forma a entregar sua vida por ela. Ato contínuo, a lista revela a posição dos FILHOS. Eles são herança do Senhor e responsabilidade dos pais (não da igreja, da escola ou do governo), cabendo a estes ensiná-los, discipliná-los e criá-los no temor do Senhor. Por conseguinte encontra-se o TRABALHO/ESTUDOS (para os que ainda não trabalham), é deste que provém o sustento da família. “Porque, quando ainda estávamos convosco, vos mandamos isto, que, se alguém não quiser trabalhar, não coma também”. (2 Ts, 3:10). Na ordem e em seguida está o MINISTÉRIO ECLESIÁSTICO ou toda obra e atividade desempenhada na igreja. Observe, somente depois de observar as prioridades anteriores é que estarei apto a me envolver na obra de Deus e de fato ser benção no meio da congregação para a Sua glória. Do contrário, Deus não receberá seu trabalho e empenho ministeriais em detrimento da sua família e de seu trabalho, em razão disso o fracasso e frustração são inevitáveis.

     Coloquemos nossas prioridades em ordem. Se colocarmos a família acima de nosso relacionamento com Deus, cometeremos idolatria. Se colocarmos a carreira profissional/trabalho em posição superior à família, perderemos nosso lar. Se concebermos as atividades eclesiásticas como mais importantes que nosso relacionamento com Deus e família, estaremos desagradando deliberadamente ao Senhor. Perceba: não observar a ordem de nossas prioridades se opõe à vontade de Deus e nos leva ao pecado! Pense nisso!

Em amor,

Carol Montilari.